Em 1958 eram quatro as tabernas em Vila Cova. Muito frequentadas, eram assim os tempos, tinham no famoso “copo de três” o produto mais vendável. Contudo, nos últimos meses do ano, o “copo de três” ganharia forte concorrência. Tratou-se da “asiática”, nome porque foi conhecido um bom trago de aguardente vendido nas tabernas, aguardente esta de altíssima graduação, bem ao jeito do fabrico caseiro da terra. A razão da alcunha colheu-a, a bebida, na “gripe asiática”, a famosa gripe que irrompeu como pandemia em princípios de Setembro desse ano de 1958 e que teve o seu pico nos primeiros dias de Outubro.
Sai uma “asiática”! – era uma frase ouvida nas tabernas e que ganhou hábitos nesses meses de incidência da gripe.
Diziam os bebedores que a “asiática” combatia e impedia a doença. E quem mais a bebesse mais imune a ela estaria.
Claro que para a ciência médica, e para todos os que nela acreditam, isto não passará de uma grande patranha. Mas certo, certo é que em Vila Cova a doença parece ter passado ao lado. A verdade é que a incidência da gripe sobre a população, que na altura rondaria uns quatrocentos habitantes, parece, segundo um ou outro testemunho, ter sido muito baixa e mesmo nula para a faixa etária adulta frequentadora das tabernas. Terá sido mesmo assim?
O que parece não oferecer quaisquer dúvidas foi a altíssima incidência de uns "vapores etílicos a mais" nesses meses finais de ano sobre uns quantos. Valentes "cadelas" para alguns nesse período, há quem diga. E ainda há quem diga mais. Que os da borracheira, quando censurados, respondiam com argumento irrefutável: O que é que eu posso fazer? O remédio é muito forte!...
Nuno Espinal