Síntese da intervenção da bióloga Sílvia Neves, na sessão sobre a “Rede Natura 2000”, apresentada na Biblioteca Alberto Martins, em Coja, no passado dia 19.
Ao longo de milhões de anos têm-se verificado na terra episódios de destruições de espécies devido a fenómenos naturais. Numa função de equilíbrio têm ocorrido períodos de recuperação verificando-se, muitas vezes, aumentos na diversidade biológica. O número de espécies que se julga existirem em todo o planeta é nas teorias mais reducionistas de cinco milhões e nas mais excessivas de cem milhões, sendo certo de entre as que de facto existem apenas cerca de dois milhões estão monitorizadas. No entanto, nos últimos anos, o ritmo de desaparecimento de espécies tem apresentado proporções impressionantes, com consequências muito graves para a riqueza da biosfera, em parte por errada intervenção do homem.
De entre as causas que mais contribuem para o desaparecimento das espécies apontam-se como principais os incêndios florestais, as espécies invasoras, a desertificação humana, a população envelhecida, abandono de técnicas agrícolas e florestação ancestrais, o desaparecimento de uma cultura de relação com a terra e o turismo desregrado e concentrado no tempo e no espaço.
Este desaparecimento assustador de espécies tem consequências graves para a própria espécie humana que depende da diversidade biológica para a sua própria sobrevivência. Quanto mais rica é a diversidade biológica maior é a oportunidade para descobertas no âmbito da medicina, da alimentação, do desenvolvimento económico e de serem encontradas respostas adaptativas às alterações ambientais.
Estima-se que 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos.
Alertados pela situação preocupante afecta à diversidade biológica, governos e organizações de todo o mundo têm empreendido uma série de encontros dos quais têm sido tomadas medidas tendentes a regularizar e minorar o problema.
É assim que surge a “Rede Natura 2000” uma rede ecológica para o espaço Comunitário da União Europeia resultante da aplicação das Directivas Habitats e Aves e que tem por objectivo contribuir para assegurar a biodiversidade através da conservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens no território europeu dos Estados-membros em que o Tratado é aplicável. É composta por áreas de importância comunitária para a conservação de determinados habitats e espécies, nas quais as actividades humanas deverão ser compatíveis com a preservação destes valores, visando uma gestão sustentável do ponto de vista ecológico, económico e social.
Daí que no nosso concelho tenham sido seleccionados “sítios” (Serra do Açor e Mata da Margaraça) considerados de importância para a biodiversidade, com algumas espécies de grande raridade e até únicas no mundo.
Nuno Espinal