Continuamos com o conto de Joaquim Leitão, “Para Quem Vier”, e dele publicaremos um excerto que realça a pessoa de João Antunes, homem de valentia, têmpera e coração grande. A sua fama, de homem destemido, perdurou no tempo, pelo arrojo com que sempre afrontou o bandoleiro das beiras, João Brandão.
A casa onde João Antunes morava é a que surge nas fotos, ao tempo exposta em xisto, tal como todas as outras que lhe eram vizinhas. A casa, hoje, é propriedade da Drª Filomena Fortes, tetraneta, segundo apurámos, de João Antunes.
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Na tarde desse mesmo dia em que azoara o milhafre, andava João Antunes à caça, ouviu tropido. Atentou. Adiante do cavalo, umas centenas de metros, fugia espavoridamente um homem. Reconheceu: no cavaleiro João Brandão; no perseguido um rapaz de Vila Cova – Manuel da Cruz. Num pulo de galgo desceu e, restribando-se na encosta, gritou:
-Tem-te Manel, que agora estou cá eu!
João Brandão, dando pelo vozeamento desandou a galope.
Manuel da Cruz atravessou de coração endividado.
-Com que é que se paga isto, ti João?
João Antunes tapou-lhe a boca:
-Não me venhas para cá sanfoninar aos ouvidos!
-Com’ó João Brandão lhe tem respeito! – tornou Manuel da Cruz – Parecia um Judas numa roda de fogo preso!...
-Respeito…hum!...Aquilo tira a lobo! Vinha sozinho…
Foram andando com os comentários. O anoitecer ia na companhia deles.
-O ti João vai-se chegando?
-Pois… Tenho lá o neto à espera para a bailata da deita: Não é capaz de adormecer sem eu bailar um bocado com ele!...
Treparam a congosta . O amesendado de Vila Cova cabeceava com sono. As paredes de xisto, ínvias e sem reboco, escorregavam pelo Outeiro, na pesada sonolência da infância. As buracas, na maioria desconhecendo o vidro, cerravam as pálpebras de castanho.
João Antunes e Manuel da Cruz embrenharam-se pelos travessos da vila e breve, os sapatos cardados, deixando de arranhar os godos que calçam a Rua Direita, dobraram para a Rua da Fonte. Mais duas moradas que se apanhavam num abraço e estavam em casa de ti João.
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