
Há uma diferença substancial na atitude, comportamento e modo de vivência societários da Vila Cova de há uns quarenta, ou mais anos, para a de hoje. Não tem, todavia, sentido procurar uma resposta sobre o que de melhor ressalta da comparação de uma época e de outra, face a circunstâncias próprias, que muito se diferenciam.
Compreende-se, contudo, que os mais velhos recordem com saudade e até empolgamento os seus tempos de meninice e juventude e que nas memórias que evocam rejubilem o passado e menosprezem o presente.
Foi esta reacção, basicamente sentimental, a de algumas das senhoras mais idosas do Centro de Dia quando, em conversa, me enalteceram os festejos de São João, em tempos da sua mocidade, já lá vão mais de sessenta anos.
Nesses tempos Vila Cova era uma terra muito menos aberta com o exterior, a viver quase exclusivamente da agricultura, com o triplo da população e em que a percentagem de juventude era incomparavelmente superior à de hoje. As festas eram organizadas, aparte os foguetes, com recursos exclusivamente caseiros e a participação de pessoas era muito superior, o que à partida conferia desde logo uma outra animação.
Mesmo a propósito, pudemos aceder a um texto que foi publicado numa Comarca de Arganil de 1931, em que o entusiasmo, alegria e colorido estão patentes na imagem que ressalta do próprio programa de festas de S. João daquele ano:
“Vila Cova, 7 de Junho - Prometem revestir desusado brilhantismo os tradicionais festejos de São João, que se realizam nesta vila nos dias 23, 24 e 25 do corrente. O programa é o seguinte: Dia 23, às 12 horas, início dos festejos com uma girândola de foguetes, dando a Filarmónica Flor do Alva volta às ruas da vila; às 21 bailes e descantes populares, pau encebado e concerto pela nossa música até à 1 hora. Dia 24, às 5 horas, alvorada com 21 foguetes; às 9 a Banda Flor do Alva percorrerá as ruas da vila para juntar os andores a as ofertas; em seguida sairá a procissão da Igreja Matriz para a Capela do Alqueidão, onde se realizam os actos religiosos que constam de missa cantada e sermão, findo o que se arrematarão as ofertas; durante a tarde venda da flor por gentis meninas, executando a Flor do Alva trechos do seu vasto repertório; às 18 horas, procissão do Alqueidão para a Igreja Matriz; às 21 arraial com as diversões da véspera , queimando-se um vistoso fogo de artifício e havendo iluminações à veneziana e à moda do Minho; dia 25 grande «pic-nic» de confraternização no pitoresco local dos Carvalhos do Alqueidão.”
Nuno Espinal