Por Nuno Espinal
Nos carnavais de Vila Cova dos últimos anos, a par das imprescindíveis quadras, geralmente alusivas a temas glosados no “cortejo”, surgem sempre quadras “clandestinas”, que são deixadas à sorrelfa em locais intencionalmente escolhidos.
Desta vez o alvo foi a “Flor do Alva”, entidade organizadora do Carnaval que, ao que é sugerido, impediu a liberdade de expressão. Ora, ao que nos informou o Presidente da Direcção da Flor do Alva, o que se desaconselhou foi “o abuso de agressões verbais e pessoais desbragadas, geradoras de mal-estar e provocadoras de divisões na própria comunidade. Fixaram-se apenas limites que impedissem que o carnaval de Vila Cova ficasse ligado a questiúnculas políticas locais, de arremessos meramente pessoais”.
Curiosamente, nestas quadras clandestinas do carnaval de 2009, que são, como sempre, de autor anónimo, detectam-se versos do célebre e popular António Aleixo, plágio que denunciamos em prol da sua memória e obra, com a particularidade de uma das suas famosas quadras ter sido transformada em quintilha:
Na minha forma de vestir
Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que conheço
Que sem parecer o que são,
São aquilo que eu pareço.
Deixamos aqui publicado um conjunto das quadras que nos parecem mais sugestivas, omitindo, entre outras, as de António Aleixo. Neste conjunto de quadras são feitas alusões ao Presidente da Junta e à “mordaça” imposta a troco de um subsídio de apoio à organização do carnaval:
O “Jornal o Mal Dizente”
Anda pelas ruas da amargura
Foi apanhado pela crise,
Motivada pela censura
Esperamos que para o ano
Continuem a trabalhar bem
Não deixem que mande em vós,
Nenhum filho da…mãe.
Sois uma Direcção unida,
Inovadora sempre ordeira
Desta vez quase deixaram,
Que lhes colocassem a coleira.
Dar-vos-ia um donativo
Desde que a sua vontade se faça.
Por uma mísera esmola,
Lhes impuseram a mordaça.
Teria que ser muito digno,
Vos informou o Presidente.
Será que ele é mais digno
Ao recensear um demente?
Um apelo quero fazer,
Dirijo-me a toda a Direcção
Só a PIDE nos roubava,
A liberdade de expressão.
Sempre os mesmos a trabalhar,
A Direcção e mais ninguém
No Carnaval se dão piadas,
Desde que não se ofenda ninguém.
Na presente Direcção,
Há gente que ignora,
Que a Banda tem muitos anos,
Não é Filarmónica de agora.
Há jovens voluntariosos,
Nos acusam da palavra dada.
Onde está a matéria prima,
Para não ser uma palhaçada?
Estão a correr com os velhinhos,
Que a Filarmónica contém.
Gostava mas não é possível
Ver-vos ir muito além.
/…/