Da foto da Igreja Matriz com torre em cúpula ressalta, entre vários pormenores, um que não deve escapar, assim presumo, a qualquer observador conhecedor do espaço, mesmo que pouco perscrutador: a ausência do anexo que é a sacristia.
Ora, sendo a fotografia de 1898, ou anterior a este ano, impossível é que este anexo estivesse integrado no corpo do edifício, porquanto a sua construção remonta a um ano bem mais recente: 1952.
Esta mesma informação foi recolhida de uma edição dos “Ecos do Alva”, conforme excerto que diz:
“É colocada na nova sacristia da Igreja Matriz, em 14 de Setembro, (1952) a fotografia do Sr. Padre Januário Lourenço dos Santos, /…/”.
A sacristia traz-me algumas memórias de meses que passei em Vila Cova, teria uns 6 ou 7 anos. Era lá que o Sr. Prior guardava alguns livros infantis, que a petizada requisitava no fim de cada missa, ao Domingo: “A Branca de Neve e os Sete Anões”, “A Carochinha”, “A Cabrinha e o Pastor” e por aí fora.
Era nessa mesma sacristia que era também guardada uma bola de futebol, que o Sr. Prior nos cedia nesses mesmos Domingos, à tardinha, para depois no Adro serem organizadas umas jogatanas, com balizas marcadas por calhaus.
Era ainda na sacristia que me lembro de um órgão, accionado a pedal, onde aprendi a habilidade de solar a única melodia que até hoje soube teclar.
“A treze de Maio na Cova de Iria…, Ré Sol Sol Si Sol Sol Si Lá Lá Si Lá Sol…”
E de tal maneira se me incrustou este saber musical que, ainda agora, sempre que vejo uma pianola, não consigo resistir e lá piso as velhas notas…
Mas, por mais que apele à inspiração, nunca mais será igual… e mesmo que seja um “Stein”, nada se comparará alguma vez ao velho som, talvez roufenho, do velho órgão a pedal da sacristia…
Nuno Espinal