Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
Contra a luz, nada podeis…
In “Frente a Frente”
Eugénio Andrade
Das quatro estações do ano a Primavera é a única feminina. Garrida, enfeita-se de variadas cores e perfuma-se de agradáveis aromas; do seu ventre brota vida depois de um longo sono de Inverno. Tudo floresce, tudo nasce depois de nidificar.
Há poucos dias, no passeio habitual que faço para os lados de Sintra, ao virar de uma curva, a Serra apareceu-me inesperadamente toda coberta de um manto de flores amarelas – as azedas como lhes chama a criançada. Era o anúncio da Primavera!
Inexplicavelmente, a tampa do meu “cofre das memórias” abriu-se noutras Primaveras.
Qual Cinderela, o meu cómodo automóvel transformou-se num ronceiro comboio a carvão e depois numa não menos ronceira e incómoda camioneta que me conduziram para uma outra Vila, distante, que não aquela em que principiara o passeio.
A viagem no velho comboio a carvão (donde saímos todos enfarruscados) foi feita toda de pé, no corredor, para nada perder do que a Mãe Natureza nos ofertava. Os cabeços dos montes apresentavam-nos um lençol roxo de rosmaninho e urze, de vermelhas papoilas e de douradas azedas, tojo e pascoinhas. Um festival de cor e de cheiros!
Também a Natureza quisera participar na festa que se aproximava, vestindo-se de roxo – a “Paixão” e de amarelo e vermelho – a “Ressurreição” para a Vida.
Em Coimbra, a viagem prosseguiu de camioneta. Os solavancos eram mais de muitos, caímos de buraco em buraco, ma o desconforto era superado pela alegria do regresso ao seio natal.
De Coja a Vila Cova, as giestas brancas e amarelas e o tojo e carqueja bordejavam a estrada, numa sinfonia de luz e cor, cuidadas pelas mãos amorosas do Sr. Alfredo “Cantoneiro”, que amava o que fazia. Disso tenho a certeza pois, quando o meu pai partiu, numa tarde em que o meu marido e eu nos encontrávamos no minúsculo jardim da nossa casa em Vila Cova, ele aproximou-se de nós e disse – Vão continuar a cuidar delas, não vão? Enternecedor. Gente de bem, a nossa!
Uma travagem levou-me à realidade, ao meu natural meio de transporte e também à lindíssima e romântica Sintra.
Mas é com alegria e saudade que guardo recordações (como a que apontei) das férias, de Páscoas passadas na minha terra.
Nessa época seria incómodo lá chegar – longos e maus caminhos e estradas que nos sacudiam de alto a baixo – mas sentíamo-nos recompensados porque a Mãe Natureza, engalanando-se toda, recebia-nos de braços abertos dando-nos as boas-vindas. E hoje? É tudo mais simples, mas o que encontramos é terra queimada.
É com prazer que tenho visto no “Miradouro” belas fotografias de Vila Cova.
A “Terra é que é fotogénica” no dizer, modesto, do seu Autor.
É verdade.
Mas o amor, a sensibilidade e a mestria pertencem a quem as realiza.
Parabéns amigo Nuno Espinal.