Recentemente li, de Piaget, a importância que o jogo tem para a criança. O jogo, a brincadeira, e a sua intima ligação ao desenvolvimento da própria inteligência. Diz Piaget que, desde bebé até aos dois anos, a criança, nas suas brincadeiras, começa a aprender a controlar e coordenar os movimentos. São as brincadeiras de domínio. Entre os dois e os 6 a 7 anos é o jogo do fingir, do faz de conta. A criança finge que é isto ou aquilo, imagina ser outra coisa ou pessoa. São as brincadeiras simbólicas. Em fase posterior do crescimento entra nos jogos com regras. “Vou-me esconder. Tens de contar até cem. Só depois é que podes abrir os olhos. Não vale fazer batota”. São as brincadeiras com regras.
Ora, neste caminhar das fases do crescimento fui levado à recordação de uma cena passada em Vila Cova, no sitio do Adro, com a Matriz por fundo, teria para aí os meus 6 anos. Detive-me, pois, nesta parte do livro que versava as brincadeiras com regras. E porquê?
É que, na viagem ao passado a que a memória me levou, vejo-me atrás de uma bola com outras crianças, decerto a maioria um ou outro anito mais velha, e um senhor, de batina preta, com um apito, a apitar…a apitar…a apitar. As “coisas” que as apitadelas denunciavam disso não tenho na memória qualquer registo. O que eu registei é que o “Senhor do Apito” era nem mais nem menos o Sr. Prior, o bondoso Padre Januário Lourenço dos Santos.
Foi porventura este mero jogo com uma bola de futebol um primeiro, ou dos primeiros momentos, que no curso do meu crescimento e aprendizagem me terá sinalizado que há regras…as tais brincadeiras com regras.
E lá estava o Sr. Prior, atitude amiga e solidária, a fixar-se na recordação mais antiga que dele guardo.
E será assim, amigo e solidário, que o hei-de sempre recordar.
Nuno Espinal