Por Nazaré Pereira (Drª Zita)
Conta a lenda que existem 7 irmãs que, dos lugares sagrados onde se encontram, se vêm umas às outras: as Senhoras das Preces, do Colcorinho, da Natividade, das Necessidades, do Mont’Alto, a Stª Eufémia e que me perdoe a que não consigo recordar, não por desconsideração mas porque a memória me vai atraiçoando.
A ermida da Senhora do Colcorinho destacava-se das outras por aparecer simples mas altaneira, envolta num manto branco, puríssimo, a ombrear com a alva neve da serra da estrela, sua companheira.
Era para mim uma espécie de farol que me guiava e protegia quando ia passar as férias a Vila Cova.
Ao avistá-la, sentia-me já em casa.
Mas a partir de certo momento, deixei de avistar o”ponto branco” que sempre me norteara.
Achei estranho. Qualquer coisa se passava. Resolvi investigar. Pus-me a caminho na esperança de encontrar o que guardara na memória quando, na juventude, visitara o Santuário.
Durante o caminho bem procurava o “ponto branco” que, teimosamente, não aparecia.
Quando cheguei ao templo nem queria acreditar!
A minha branca, pura, singela ermidinha fora substituída por uma construção negra, triste, incaracterística, forrada a azulejos (vejam só!) de um péssimo gosto.
Os meus olhos nublados de lágrimas não puderam ver mas adivinhavam que a Senhora também chorava – a sua solidão acentuava-se, deixara de ser avistada pelas suas irmãs.
Não fora a paisagem envolvente esmagadoramente rude, agreste, bela que me rodeava, decerto não teria quase tocado o Divino.
Ela impõe-se, remete-nos ao silêncio, à concentração, à consciência da nossa pequenês.
As mãos de Deus passaram de certeza por ali. É esta certeza de que a Mãe Natureza é superior aos Homens que não soçobramos quando vemos as nossas tradições, os nossos valores, aquilo que faz a identidade de um Povo serem engolidos pela febre do consumismo, pelo laxismo, pelo macaquear outros de gosto duvidoso.
O meu amigo Dr. Nuno Espinal referiu-se, num seu apontamento no “Miradouro”, ao desaparecimento da velha tradição de “madeiro de Natal” na bela Praça de Vila Cova. Li, nas entrelinhas, desgosto, nostalgia. Somos então dois e, tenho a certeza, muitos mais se juntam a nós.
Como cantava o poeta Vinicius de Morais “tristeza não tem fim, felicidade sim”.
Foto: Silvino Lopes