publicado por Miradouro de Vila Cova | Quarta-feira, 28 Outubro , 2009, 01:35

A foto foi enviada por Ercília Oliveira, autora do artigo, e diz respeito à sua turma da escola em Vila Cova, no período lectivo 1978/79

Da esquerda para direita:

1ª plano: Joaquim, Ercília, Ana Cristina, Gabriela, Júlia, Adelina;

2º plano: Helena, Maria, Anabela, Odete, Cristina Albano, Graça, Leonor, Fernando;

Fila de trás : Amélia, Luísa, Gininha e Fernanda.

 

 

Quis o destino que um dia ficasse em Vila Cova de Alva, tinha eu quase seis anos de idade… aí vivi 5 anos da minha vida que jamais esquecerei. Os meus avós maternos acolheram-nos naquele dia de Verão chuvoso, que ainda me vem à memória. Memória tão rica de pormenores … tão perto de mim ainda hoje. Parece que ainda me imagino na janela a ver passar os bois que vinham beber a água tão fresca e tão limpa que corria na fonte S. Sebastião e do som do badalo dos animais e o barulho dos cascos… parece que ainda oiço os meus passos a descer, a correr pela escadaria de madeira lá de casa, com um cântaro na mão para ir à fonte ter com as amigas e falar…e elas usavam rodilha na cabeça… e eu não, para quê se eu morava mesmo ali!!!? E se eu não ia ter com elas vinham elas bater-me à porta… e brincávamos muito, em casa umas das outras e, quando começava a ficar escuro, ouvia uma e outra vez a voz de minha mãe: “Silinhaaaaaa vem para casa, já são horas”, mas quando ouvia: “Ercília Maria não te chamo mais nenhuma vez”…descia então a correr aquela ladeira imensa cheio de pedras incertas. E também havia a escola, o nosso ponto de encontro em tempo de aula e, nas férias, jogar futebol, jogo do prego, a macaca… grandes tardes!

 

Recordo-me das grandes caminhadas que fazia com o meu avô, pelos pinhais à procura dos míscaros… era tão bom!… e na altura das castanhas íamos a elas…passávamos na fonte dos passarinhos e bebíamos a água …tudo silvas… e orvalho e sombras…respirava-se verde!

E o toque da igreja que nos orientava o dia…e as palavras do Padre Januário, tão cheias de calma e de eloquência…

E quando vi pela primeira vez a televisão…foi no café do Sr. Caetano, onde passavam os filmes da Heidi, que nós, miúdos, espreitávamos entre as tiras plásticas e coloridas da porta…

 

Grandes pessoas ficaram no meu coração para sempre…por motivos e afectos diferentes. Uma delas foi a minha querida professora primária Georgina Fanzeres, a inesquecível Gininha. Ela não foi só uma pedagoga, foi uma amiga, uma pessoa simples que pegou em nós e nos fez viver um sonho… aparecer na caixinha mágica, na televisão. Ela pôs Vila Cova no mapa pela melhor das razões, acreditou nas capacidades das crianças… agora tudo é mais fácil, mas naquela época não era. Muita gente perguntava de onde eram aquelas crianças!!! Ela deu tudo por nós, ensinou-nos a gostar da escola. Nunca a vi triste, o humor dela dava-me paz… mulher de genica e de ideias, que adorava ouvir logo pela manhã o programa do António Sala e da Olga Cardoso…ainda hoje quando a vejo na baixa de Coimbra parece que os anos não passaram e ela ainda é a minha professora.

Outra das pessoas que se cruzou na minha vida foi a D. Lúcia, a mulher do Sr. Zé Canastreiro, uma das senhoras mais simpáticas que conheci. Muita afectuosa, trazia sempre uma broa para a menina, (era eu claro) era a broa melhor do mundo… que eu comia muitas vezes sentada no muro da D. Irene, que morava mesmo em frente. Como eram bons e saborosos aqueles nacos ainda quentes…

 

E as idas ao Porto Avô? Como posso esquecer aquelas caminhadas que fazíamos! A primeira vez que lá fomos ainda era tudo um pouco selvagem, ainda lá havia uma cascata que depois secou. Grandes tardes que passámos e foi nesse local  queaprendi a nadar com o instrutor de serviço, o meu pai. As minhas amigas aprenderam também.

Quando acabámos a primária alguns foram para a telescola em Côja e eu fui uma delas. Não era fácil partirmos de manhã na camioneta e voltarmos só à noite, fizesse sol ou chuva, lá íamos nós aprender… e mais do que a escola, a vida ensinou-nos a viver. Também aí encontrei uma pessoa que era motorista de autocarro e que vivia em Vila Cova. O sr. Pais, o nosso companheiro de viajem que falava, ria, que se preocupava connosco. ”Correu tudo bem? Como vão as meninas?”.E contávamos nós a novidades do dia, mas o seu olhar estava sempre atento ao percurso sinuoso e quando chegávamos a Vila Cova ele deixava-me ao pé da fonte S. Sebastião… paragem inventada à pressão por uma pessoa boa que nunca esqueci.

 


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