O movimento feminista, na sua dinâmica evolutiva e histórica, almejou, em parte considerável de países de todo o Mundo, desde finais do século XIX e princípios do século XX, com incidência inicial nos Estados Unidos e Inglaterra, diversas alterações sociais em prol das mulheres, através de conquistas proporcionadas por uma abordagem de consciencialização, de instigação, de reivindicação e de mentalização.
Contudo, o feminismo não chega a toda a parte com o mesmo registo de consciencialização e, muito menos, é assumido pela mulher, em cada parte do mundo, com um sentido de militância e mentalização que a catapulte â luta.
Ainda assim, o feminismo, mesmo com gradações distendidas espacialmente, tem marcado a sua influência e hoje são visíveis progressos assinaláveis na libertação da mulher das amarras a que há alguns anos ainda estava sujeita.
Fixemo-nos em Portugal e concretamente em Vila Cova. As jovens de hoje, em Vila Cova, têm uma atitude, uma personalidade e um “modus vivendi”, enquanto mulheres, muito mais indiscriminado, relativamente ao homem, do que as que tiveram as mulheres há uns sessenta ou cinquenta anos. Avoquem-se à memória esses tempos, por parte dos que os viveram, e reflita-se. Que diferenças consideráveis!
Contudo, muito há ainda a fazer e uma certa mentalidade masculinizada persiste, arreigada por uma socialização que deixou marcas fortes na construção social do “género”.
Há dias coloquei uma questão, numa conversa que envolvia outros três vilacovenses, a propósito da Festa de São João, sobre a razão de existirem “mordomos” e “mordomas” e porque não a fusão num único grupo de todos eles.
A resposta foi unânime: “Que não! Cada grupo com o seu papel. Que as mulheres servem para umas coisas e não têm a capacidade dos homens para outras. Que as mulheres são para a quermesse, para os “comes”, para a venda de umas flores de papel e chega”.
A veemência da resposta deixou-me sem motivação para uma contra-argumentação. E deixou-me ainda uma certeza. Apesar de substanciais diferenças relativas ao passado, a perceção da igualdade de “género” continua longe de uma assunção homogénea, não chegando a toda a parte com o mesmo registo de consciencialização e muito menos sendo, em consequência, assumida pela mulher com um sentido de militância e mentalização que a catapulte à luta, pelo reconhecimento da sua não menoridade perante o homem.
Nuno Espinal