Realizou-se ontem, nas instalações da Casa do Povo de Coja, um encontro entre o Sr. Bispo de Coimbra e elementos das Bandas Filarmónicas de Vila Cova, Coja e Barril de Alva, encontro este integrado no programa da Visita pastoral do Sr. Dom Virgílio Antunes a dioceses do concelho.
Cada Filarmónica dispunha de um orador que discorreu sobre o historial das suas Instituições, terminando a sessão com a intervenção do Sr. Bispo que fez considerações sobre a relação do estético, no qual se insere a cultura musical, com o ético, ou seja, o Bem.
Nuno Espinal foi o orador representativo da “Flor do Alva”, face à ausência, por razões pessoais, do Presidente da Direção João Gonçalves.
Na sua intervenção, Nuno Espinal contrapôs dois momentos corelacionados entre a caracterização social da comunidade vilacovense e o modo de vivência na Flor do Alva.
O 1º momento diz respeito à data de fundação da Flor do Alva, em 1918 altura em que “/…/ a população de Vila Cova era na sua grande maioria bastante pobre, vivendo em condições muito precárias e ligada exclusivamente à agricultura, da qual retirava parcos recursos para a sua sustentabilidade /…/”.
Vivia-se em comunidade ensimesmada /…/ e foi neste contexto que nasceu a Sociedade Filarmónica Flor do Alva, com os donativos importantes das muito poucas famílias mais abastadas e os donativos generosos da restante comunidade, caracterizada por uma grande solidariedade e orgulho pela sua terra.
Os filarmónicos, então, sentiam “orgulho em serem representantes de uma Instituição que espalhava o nome de Vila Cova em localidades onde a Flor do Alva atuava”.
Mas, também não era despicienda uma outra razão associada a alguns filarmónicos: “A possibilidade de poderem usufruir de passeios e refeições em localidades e em festas em que a Filarmónica participava”.
O segundo momento reportado por Nuno Espinal diz respeito ao atual momento de vivência da Flor do Alva.
De acordo com Nuno Espinal:
“O ensimesmamento que tipificava as povoações deu lugar a um esboroamento das fronteiras dos povoados, por força da globalização, da mobilidade, da ambição óbvia de melhores condições de vida de cidadãos.
A Flor do Alva e muitas outras bandas filarmónicas no interior do país têm-se ressentido destas novas circunstâncias, com dificuldades óbvias no recrutamento de novos executantes.
Uma nova mentalidade levou a que fossem aceites não só elementos do sexo feminino e, por outro lado, como afirmação do fim ensimesmamento, elementos de povoações vizinhas.
Gente jovem na Flor do Alva, com níveis académicos mais elevados e outros interesses bem diferenciados dos que vigoravam em antigos executantes nos primórdios da filarmónica, tem exigido superior qualidade musical, com maestros dotados de formação em escolas de música.
Entretanto, a sangria demográfica impõe dificuldades no engajamento de novos executantes.
Este o grande problema que se perspetiva e que poderá pesar na continuidade de filarmónicas”.
No pior dos cenários de sobrevivência da Flor do Alva “as estruturas e a base formativa musical existentes poderão proporcionar formações de modelos musicais diferentes, de modo a constituírem um pilar vital, que seja um contributo anímico, bem necessário para desconstruir um certo abatimento e desconfiança no futuro destas povoações, agrisalhadas por força das circunstâncias, mas com potencialidades que as poderão ressurgir com motivos que reforcem as suas identidades e razões que nos sustentem que nelas vale a pena viver”.
Manuel Fernandes