A vida é tanto e em nada se desfaz
E o tempo nunca, nunca, volta para trás
Tudo esperamos, mas já nada nos apraz
E o tempo urge, nesta luta tão fugaz
Todos os dias numa gana desmedida
Saltas da cama para fazer frente à vida
Tantas vontades diferentes à partida
E uma certeza – a incerteza da corrida
Sem perceber o tempo passa e desgasta
A força pura que pensamos que nos basta
A pouco e pouco, martiriza e devasta
E nos atira para longe e nos afasta
Quando tentamos inverter esse sentido
Que, percebemos, ser o que não foi escolhido
Já não podemos, não há outro. Estás perdido
Sentes de novo esse erro cometido
Que te levou a essa angústia a esse medo
E sem querer te empurrou para o degredo
Onde esqueceste a tua alma, o teu segredo
E que te faz fugir de ti num arremedo.
A vida é isto – uma perfeita ilusão
Que implantaram com perícia e precisão
Em cada peito, no lugar do coração,
Bem camuflada sem gerar a confusão
Para que todos sem saber e sem pensar
Gastem a vida sem prazer a trabalhar
Sempre a correr, sempre a dormir, sempre a sonhar
Todos unidos formatados a pasmar
Assim se riem os senhores donos do mundo
De tanta gente sem saber como é profundo
O estilete que espetaram frio e imundo
Nesse futuro que ainda pensam que é fecundo…
Silvino Lopes